Uma irresistível vontade de movimentar as pernas devido a sensações estranhas e desagradáveis nas mesmas que ocorrem principalmente à noite e quando elas se encontram em repouso pode ser o que os neurologistas chamam de Síndrome das Pernas em Inquietas (SPI) (Restless Legs Syndrome – RLS).
É uma condição comum, pouco diagnosticada e plenamente tratável. Está freqüentemente associada a queixas relacionadas com o sono, tendo um caráter crônico (intensidade estável e de longa duração), podendo ter um grande impacto na qualidade de vida do sujeito devido à privação do sono e estresse.Estima-se que cerca de 2% a 15% de pessoas têm esse distúrbio que pode ser primário (genético) ou secundário. Sabe-se que a prevalência aumenta com a idade, mas em cerca de um a dois terços dos pacientes, os primeiros sintomas ocorrem antes dos vinte anos de idade. O diagnóstico desse quadro é feito principalmente através da história do paciente, sendo que os exames são realizados para que outras doenças possam ser excluídas.
Pernas Inquietas
A SPI Primária é uma desordem do sistema nervoso central. Não é causada por fatores psiquiátricos nem por estresse mas os mesmos podem contribuir para o seu agravamento. Há uma incidência importante de casos dentro das famílias de pacientes o que sugere uma transmissão genética, apesar de não se saber a forma de transmissão.
A SPI Secundária pode ser devido a:
- Deficiência de ferro, que pode não ser intensa o suficiente para que ocorram alterações importantes no sangue (anemia). Por isso, todos pacientes com diagnóstico recente de SPI devem ter seus níveis de ferritina (proteína que carrega o ferro no sangue) mensurados.
- Lesões neurológicas: em doenças da medula, hérnias de disco e doenças dos nervos periféricos.
- Gravidez: cerca de 19% das mulheres grávidas são afetadas, os sintomas podem ser severos mas se resolvem logo após o fim da gestação.
- Insuficiência renal: esses pacientes acumulam compostos tóxicos que levam a alterações nos nervos periféricos gerando os sintomas da SPI.
- Medicamentos: algumas publicações relacionaram o uso de alguns tipos de antidepressivos, lítio e antagonistas dopaminérgicos com a SPI.
Causas e Conseqüências
da SPI
Como já dito acima, a história do paciente é o mais importante. Os sintomas variam muito de intensidade – de leves a intoleráveis. São sensações muitas vezes difíceis de caracterizar: choque, queimação, coceira, anestesia, dor, aperto, arranhão, etc. Ocorrem com periodicidade e uma duração de cerca de 20 segundos.Os movimentos mais comuns são a flexão dorsal dos pés e a flexão das pernas e coxas. São geralmente presentes mais à noite do que durante o dia. Devem ser distinguidos de cãibras noturnas. Muitas vezes, no entanto, essas queixas não são trazidas pelo paciente, talvez por considerarem-nas como parte do dia a dia, como sensações normais próprias do seu organismo. Outras vezes, as queixas podem estar relacionadas com distúrbios de sono, cansaço extremo durante o dia levando a dificuldade de realizar tarefas diurnas e estresse (devido à diminuição da qualidade do sono). A doença provoca um impacto nas atividades ocupacionais, sociais e familiares. A inabilidade de se conseguir desenvolver atividades sedentárias (que desencadeiam as sensações incômodas) pode ser responsável pela perda de empregos.
Diagnóstico
Cãibras noturnas das pernas: são geralmente muito dolorosas, palpáveis, relativas a contrações involuntárias dos músculos, geralmente focais, de início súbito e freqüentemente de um lado só.
Acatisia: é um movimento excessivo, sem queixas sensitivas específicas, geralmente não tem relação com repouso ou hora específica do dia, e com freqüência ocorre como efeito colateral de medicações psiquiátricas.
Neuropatia periférica – causa sintomas diferentes. Não estão geralmente associados com o repouso e não melhoram com a movimentação, nem pioram à noite. As queixas sensitivas são geralmente de formigamento, fincadas ou dores. É importante ressaltar que as duas patologias – SPI e neuropatia periférica – podem coexistir.
Outras condições
que podem simular
o quadro de SPI
Apesar do tratamento medicamentoso ajudar a quase totalidade dos pacientes, aqueles com sintomas mínimos podem não necessitar de remédios. Devido ao fato de existirem várias drogas e associações para o tratamento, o médico deve saber utilizá-las da melhor maneira possível de acordo com as particularidades de cada paciente, principalmente no que se refere à idade, severidade dos sintomas e freqüência dos mesmos.Muitas dessas drogas são utilizadas para o tratamento de uma infinidade de distúrbios, entretanto, quando usadas na SPI têm suas dosagens bem diminuídas. Mesmo assim, é importante que seu médico lhe informe sobre seus possíveis efeitos colaterais. Como exemplo, tem-se as drogas de primeira escolha para tratar SPI que são os chamados agentes dopaminérgicos.Essas são as mesmas drogas usadas para tratar a Doença de Parkinson. O tratamento geralmente é começado com doses baixas que vão sendo aumentadas se necessário.
Tratamento
A maioria dos casos de SPI podem ser tratados e acompanhados por um médico generalista capacitado para tal. Caso haja uma certa dificuldade pelo seu clínico no seu tratamento, uma consulta com especialistas em distúrbios do movimento ou em distúrbios do sono pode ser de grande valia.